Passagens...
Andamos. Andamos o tempo todo por aqui. Estamos em Daca. A segunda cidade mais poluida do mundo. Andamos. Porque não queremos ter que barganhar com o homem do rickswa para pagar um preço mais justo... Andamos porque é perto. E assim vemos muitas coisas.
Cruzando uma passarela outro dia vimos uma cena. Uma fotografia estendida no chão. Não tinha minha câmera, mas se tivesse não sei se teria tido coragem de fotografar a cena.
A foto era real ainda que imóvel. No chão, ao nossos pés dois bebes dormiam semi nus e muito sujos. Uma menina de uns três anos segurava um bebê de uns seis meses e dormiam. Ela deitou a cabecinha do bebe entre os seus joelhos e os pezinhos encaixavam na barriga. Assim dormiram no chão quente daquela passarela.
Existe uma beleza inexplicável no horror. Aquela suposta fotografia que hoje vive na minha mente se fotografada por um Sebastião Salgado teria vendido bem. Mas a realidade nem sempre vende.
Na cidade estrangeiros conscientes não dão esmolas. Quem assistiu o filme "Quem quer ser um milionário" sabe do que estou falando. Bebes são alugados para pedintes conseguirem mais dinheiro. Podemos testemunhar outro dia um homem bem vestido fazendo a coleta das esmolas do prato de um deficiente físico que não possuia as pernas. Muitas das deficiências são causadas por seus "donos" quando eles ainda eram crianças e foram traficados de alguma aldeia.
Por essas passagens nossos valores são postos na balança. Enquanto andamos por essas passagens nos conhecemos melhor. Nos tornamos mais agradecidos. Se lembro da vez que fiquei de mau humor por perder um ônibus até dou risada. Ou quando outras futilidades agitavam minha alma, levando a paz... Nessas passagens me encontro uma pessoa melhor.
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