Duas capitais





Dhaka, Agartala e Kolkata em 36 horas.

Deixamos Bangladesh de trem as 9 horas da manhã de quinta-feira para uma viagem de duas horas até a fronteira com a Índia. A última imagem que tenho foi registrada na mente e na foto acima. Fico constrangida diante de imagens assim e normalmente não fotografo, porém confesso que a distância entre eles e eu me encorajou.
Ela começou a vasculhar por algo no saco que carregava e percebi que chorava. De repente encontrou um shortinho azul que bebê vestiu sozinho. Seu choro, sua frustração podia ter sido por qualquer coisa que eu e você nunca saberemos. Seus cabelos curtíssimos me fazem imaginar que está sozinha. Uma mulher cortaria os cabelos em um país muçulmano para parecer menos atraente e assim se livrar dos perigos das ruas, imagino. Minutos depois dessa imagem o trem se moveu e senti uma pequenina dor ao deixá-los lá no chão da estação de trem.
Cruzamos a fronteira e após os costumeiros atos burocráticos e um cházinho com o oficial da fronteira que queria conhecer os brasileiros do país do futebol, chegamos a pé na Índia. A capital do estado de Tripura, Agartala parece uma cidade do interior, o que não é nem um pouco ruim para quem deixa a populosa Dhaka. Sentimos o ar puro novamente, parecia tanto tempo que não respirávamos assim. Gostamos muito das 24 horas que passamos lá...
Chegando em Kolkata após 2 meses em Dhaka e vimos a cidade com "outros olhos". Menos barulho, desenvolvida, as mulheres de jeans e dirigindo... "E aqui encontramos de tudo"-comentávamos sem parar rindo muito de nós mesmos. Isso é o que acontece quando mostra para a criança descontente que o menino de rua tem menos que ela.
Hoje tomei um expresso de verdade, nada contra nescafé mas a gente sente saudade de café passadinho na hora. Saindo pelas ruas senti falta das pulseiras que usava em Dhaka, acostumei.
Comparando com Dhaka, Kolkata é mais desenvolvida. A area onde hoje se assenta a cidade de Kolkata é ocupada há 2 mil anos e possui restos da colonização inglesa por toda a parte. Como sabem a língua oficial é o Bangla, língua falada em Bangladesh. Então chegando aqui foi estranha a sensação de falar um pouquinho do que aprendemos com as pessoas. Constatar na prática que os indianos falam mesmo o Bangla foi muito bom, é claro. Eles falavam e nós entediamos um pouquinho e eles a gente, mas só um pouquinho-"Ektu Ektu bujhi".
Estou impressionada com as mulheres daqui. Tão perto de Dhaka e sem usar o lenço no pescoço cobrindo o peito. Muitas sem as pulseiras douradas que mostram que são casadas. Muitos jeans e até bermudas... Em poucas horas de viagem, muita diferença entre as mulheres. Claro que existe muita pobreza também e muitas mulheres sofrendo, mas aqui a quantidade de liberdade é maior.

posted under |

0 comentários:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

    Bem vindos..

    Eu por dentro não é mistério, sou livro aberto. Eu estar dentro da Índia não é novidade mas a cada dia as novidades acontecem.

    Tudo tem se acumulado desde que cheguei aqui e como já dizia a poeta PALAVRAS, preciso delas escritas...

    Contar para alguém é um alívio, hoje conto pra você.

    Obrigada por me ouvir.

    Quem sou eu

    Minha foto
    Sou brasileira, moro na Índia e sou sensível. Sensível as necessidades dos outros. Essa combinação pode ter efeitos muito bons se vierem acompanhados por força de ação e criatividade. Você pode ajudar muitas pessoas aqui. Por outro lado, essa combinação pode ter efeitos contrários se diante de tanto sofrimento você deixar seus olhos ocupados demais e assim deixar de ver a esperança na fala do passarinho, que com água no bico tentava apagar o fogo da floresta inteira, dizendo: Eu pelo menos estou fazendo a minha parte. Eu sou fâ, sempre fui, deste passarinho...

    Meditação


    Seguidores


Recent Comments