Diário em fatias
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Delhi foi uma experiência quente e seca, 47 graus precisamente, quase não respirei. De volta a Bangladesh com a permissão de entrada no pais tão merecida voltamos a escola. Estou aprendendo a ler e a escrever novamente e o brilho nos olhos do meu professor de bangla quando eu li a primeira palavra lembrou-me da minha professora do primário. A sensação é surpreendentemente parecida.
A tecnologia me permite falar com minha familia sobre a derrota do Brasil, mas não me permite atar suas feridas, minha ajuda é oração. Ninguém conhece em mim essa fatia chamada saudade, que fica ao lado da fatia da impotência, que por sua vez convive com a necessidade de renuncia.
Meus sentimentos estão em fatias que tento administrar. Meu coração é um bolo de casamento na vitrine de uma loja de doces na Inglaterra, acho que nem de graça você iria querer uma fatia essa semana. Este é um bolo velho. Falo isso porque os britânicos guardam o topo do bolo até o nascimento do primeiro filho e algumas lojas fazem o bolo e deixam na vitrine... Nos Estados Unidos, o primeiro andar do bolo é congelado durante um ano. Entenda, o bolo fica velho. Eu também.
Dentro de mim eu cortei as fatias para administrar melhor o peso. Desculpe, mas por falar em eu por dentro, dentro da Índia, semana passada, encontramos nosso apartamento. Vamos morar em um lugar bem normal, um apartamento de um quarto com paredes violeta (não escolhi a cor), rodeado por favelas e casas paupérrimas. Estranho se sentir estranho por ter um pouco aqui onde milhares não tem nada, onde comer banana quando se quer significa ser rico no contexto de alguns. Li na escola essa semana, (primeira vez que faço isso em inglês para um monte de gringos) Romanos 5.1-5 que diz "sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não se confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado". Ora apesar das lutas estou perseverante e a cada dia mais experiente com certeza. Tudo isso porque tenho esperança em Jesus que nunca me decepciona.
Desculpe hoje as fatias de pensamento/sentimento estão confusas como os poemas da Clarice Linspector e quem dera tivessem o mesmo charme. Um dia ela doida que era disse em um dos seu momentos de lucidez poética: "Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."
Para terminar, o sol me queimou e apareceu um sinal no meu rosto igual o que a minha mãe tinha. E eu que nunca tinha prestado atenção que era do sol o sinal no rosto da minha mãe. A gente não consegue perceber muita coisa quando se é jovem e quando se amadurece não consegue fazer alguém jovem entender que são como a gente era, então assisto o jovem chutando o bolo, quebrando a vitrine e não posso fazer nada. Minhas desculpas pelos fragmentos dessa vez.
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