A prática rotineira da miséria e as crianças


Estava procurando algum trabalho com crianças em Calcutá, que usasse as músicas de King´s Kids(Crianças do Rei) pensei que talvez existisse um cd em Hindi ou Bengali que eu pudesse usar, pois são músicas internacionais, foram traduzidas para muitas línguas e então fui até o google pesquisar. Fiquei chocada ao encontrar outro tipo de abordagem do que você pode fazer com kids (crianças) em Calcutá, inclusive com preços das determinadas atrocidades e etc. Que tristeza.

Hoje no caminho para casa, ruas estreitas que contornam a rua principal e que me ajuda
m a fugir do barulho e da poluição, vi um menino rasgando uma sacola de lixo (podre) e buscando materiais em plástico que pudesse aproveitar, baixei os olhos e levantando novamente a cabeça vi um outro menino da mesma idade vindo com a mãe e sorrindo, uniformizado para ir a escola, eles pareciam ter a mesma idade. Mãe e filho nem olharam para o garoto no lixo, nem reconhecera ali um ser humano. Se por acaso você pensar porque não ajudei ao menino, ou porque eles nem olharam, saiba que em 10 minutos de caminhada passei por pelo menos 5 moradores de rua dormindo no chão, outros 4 tomando banho na rua em bombas de agua que foram colocadas pelo governo em cada esquina para suprir a população de moradores de rua, também passei por outras crianças iguais aquela, que estava no lixo, correndo e brincando. Pela manhã mais cedo ou a noitinha teria visto mais gente. Aqui a miséria é uma prática rotineira.
Mas o que seria praticar a miséria? Seria aprender com ela... A cada dia crianças dançam nas bombas de água tomando banho e ficam felizes quando acham algo de valor no lixo. Brincam com ossos e não correm das ratazanas que saem dos esgotos perto deles. São intimos do trabal
ho duro,bons argumentadores ao pedir esmola e reconhecem bem o perigo. Ontem vi um menino aparentando uns 4 anos não tendo com que brincar, brincava com as pernas como um malabarista, deitado no chão ao lado da mãe que dormia na calçada.
Não estou aqui somente por uma causa ou por um sonho, mas somente porque Jesus me chamou. Pois se não fosse assim, não teríamos forças de ser aquela gotinha diante do oceano. Como dizia a música que eu dançava com as crianças: Minha pequena luz vou deixar brilhar...
Passei a manhã na creche com as criancinhas. São apenas 12 crianças com menos de 4 aninhos. São filhas das funcionárias da fábrica, que como os amigos que me leem sabem, foram um dia prostitutas e hoje estão livres. Pego a Putul no colo (essa palavra quer dizer boneca como vou chamá-la aqui) era parece uma bonequinha, pois é linda ainda que não cresceu muito, anda, corre e sorri o tempo todo. Se você visse ela paradinha no meu colo , diria que tem menos de um ano, não se desenvolveu bem, já tem 2 aninhos. Ela é aquele tipo de bebê que se enrosca em você, te abraça enquanto está no colo, faz dos seus braços o seu bercinho. Ontem, que foi quando a conheci melhor, me admirei daquela mão pequenina comendo sozinha. Ela come muito depressa e come a mesma quantidade das crianças de três anos, ela come e pede mais, ela tem tanta fome
que nos constrange. Come, te olha e sorri.
Outro bebezinho que amo, começou a andar essa semana. Ele nasceu de um estrupo. Hoje estava dando comida na boca dele, com minha mão direita ( quero dizer sem colher, só com a mão mesmo) que é o que é culturalmente certo aqui na India, pensava que para Deus, não há acepção de pessoas e que esse bebezinho pode vir a ser grande aqui na terra, não importa a sua origem. A ideia é disseminar de suas identidades os rótulos de quem nasce nesta comunidade.


Obs. Fotos das crianças citadas não serão publicadas.

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1 comentários:

Doce feltro disse...

Amiga sei que não estou presente tanto quanto gostaria enfim não convem colocar aqui td q eu preciso ainda aprender só quero que saiba q vcs são muito especiais e me emocionei com esse texto pois cada dia vejo o chamado de Deus para mim e minha familia obs: no momento em que estava lendo tocava a musica "eu tenho um chamado"
então mesmo aqui no trabalho cheia de coisa Deus continua me chamando que loucura e vc faz parte disso bjks fiquem com a paz de Deus que excede td entendimento!!!Ana Paula terra

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    Bem vindos..

    Eu por dentro não é mistério, sou livro aberto. Eu estar dentro da Índia não é novidade mas a cada dia as novidades acontecem.

    Tudo tem se acumulado desde que cheguei aqui e como já dizia a poeta PALAVRAS, preciso delas escritas...

    Contar para alguém é um alívio, hoje conto pra você.

    Obrigada por me ouvir.

    Quem sou eu

    Minha foto
    Sou brasileira, moro na Índia e sou sensível. Sensível as necessidades dos outros. Essa combinação pode ter efeitos muito bons se vierem acompanhados por força de ação e criatividade. Você pode ajudar muitas pessoas aqui. Por outro lado, essa combinação pode ter efeitos contrários se diante de tanto sofrimento você deixar seus olhos ocupados demais e assim deixar de ver a esperança na fala do passarinho, que com água no bico tentava apagar o fogo da floresta inteira, dizendo: Eu pelo menos estou fazendo a minha parte. Eu sou fâ, sempre fui, deste passarinho...

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