Aprendi com meu bebê em dois meses.

Dar tapinhas na bundinha ajuda ela a se concentrar e soltar os gases...
Quando bateram na nossa porta cremos que estávamos preparados, felizmente meu esposo estava em casa. Felizmente também foram apenas dois. Ficaram na porta, meu esposo segurando a porta, queriam ver o bebê, ele explicou que não, começaram a tocar um tambor. Meu esposo disse que não gostava daquilo e eles pararam, explicou também que somos estrangeiros e nosso Deus é outro, eles respeitaram e disseram que se dessemos o dinheiro iriam embora. Pediram 5 mil rupias! Aqui esse dinheiro vale muito! Começaram a insistir até que baixaram para 1 200 e demos o dinheiro (equivalente a R$ 26,00 parece pouco, mas é muito mais que um salário semanal na India) em troca, deviam ir embora.
Dissemos que não precisávamos de nada deles mas o dinheiro era para que fossem embora e felizmente foram. Nossos amigos indianos cristão também nos orientaram a agir dessa forma, pois não há muito que podemos fazer e se não dessemos iriam ficar, ou voltar e voltar até darmos.
Antes disso, muitos estavam orando por nós pois já esperavámos essa visita e reconheço que estava com medo do que viria pela frente. Agora que tudo já passou penso neles como pessoa e lamento. Deus nunca se esqueceu dos eunucos. Isaias 56.4-5 diz: “Porque assim diz o SENHOR a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança: Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará.”
Eles eram meninos, filhos de pais fanáticos no hinduísmo, que são oferecidos nos templos hindus quando ainda crianças, onde são castrados pelos sacerdotes e passam a servir nos templos hindus, sendo mais tarde lançados na rua. Alguns terão sorte, depende do local que viverão e outros sobreviverão de forma miserável nas ruas.
Agora a chupeta caiu, isso significa que o sono dela está profundo ou já vai acordar... Estou deixando a louça suja para escrever um pouco, que saudades de escrever...
Lembrando uma amigo surdo que conversou com Jesus em sinais em um sonho.
As línguas de sinais da Índia variam de acordo com os grupos sociais que as utilizam. Hindus e mulçumanos por exemplo não se misturam e por isso usam dialetos diferentes da mesma língua. a maioria delas são influenciadas pela língua de sinais americana ou pela língua de sinais britânica. Neste ponto, encontramos um facilitador pois a língua de sinais brasileira ( a minha primeira língua de sinais) é influenciada pela francesa, assim como a americana, portanto encontro muitas semelhanças que facilitam meu aprendizado. Por outro lado, convivi com surdos ingleses e aprendi um pouco da língua britânica, felizmente , muitos sinais fazem sentido para mim, outros no entanto são totalmente novos.
A língua Bengali no entanto ( a que se usa na comunidade que participo pois outros bengalis a utilizam com pequenas diferenças)é menos favorecida na internet ou seja, não existe muito material para aprender pois neste estado ainda predomina a filosofia do oralismo, desde o famoso congresso de Milão de 1880. Em meados de 1980 o século oralista teve fim em muitos países , na grande Índia porém, este século ainda não acabou. Aqui as escolas ainda são oralistas e os surdos usam sinais somente nos corredores ou banheiros, não em sala de aula!
O alfabeto Bengali acima foi montado por mim de acordo com o que tenho aprendido a fim de ensinar a surdos que não sabem ler ou escrever. Não é a mesma datilologia de Delhi ou do sul da Índia. Parece complicado? Sim, é um pouco complicado.
O tempo está passando depressa. Estamos quase lá, quase chegando na hora H. O bebê está com 2 kilos! Eu estou com 31 semanas... Tudo vai bem!
A gente tem tentado comprar umas roupinhas mas tudo parece ter a cara de um menino ou menina e acabamos não comprando. Estamos com quase seis meses de gravidez e não sabemos o sexo porque na India é lei: Não se divulga o sexo do bebê a fim de preservar a vida de algumas meninas. Isso tudo porque na Asia, a mulher ainda não vale muito e muitas familias ainda abortam se sabem que é uma menina. Por nós, tudo bem, vamos levando a curiosidade até soltar o grito da garganta: Meu filho!! Minha filha!! Ainda não sabemos.
O governo indiano juntamente com outras ONG's realizou uma pesquisa com as crianças de rua de Calcutá. Entre as crianças pesquisadas quase 15 mil são aidéticas e quase todas entre as milhares sofreram alguma forma de abuso sexual. A pesquisa aconteceu em 5 regiões da cidade: Nimtala Ghat, Jagannath Ghat, Shovabazar Metro e Sonagachhi. Nós moramos entre Sonagachhi e Shovabazar metro, ou seja, todos os dias, caminhamos entre essas crianças.
Algumas pessoas me perguntam como é estar grávida aqui.
A gravidez é normal e ao invéz de ficar entristecida pela injustiça social ao meu redor,tento ficar agradecida. Me alimento tão bem, meu bebê está tão saudável, agradeço a Deus e tento driblar a tristeza de ver, saber e conviver com bebês desnutridos, com a mortalidade infantil e tantas formas de abuso contra crianças.
Amo meu barrigão, amo minha vida, amo meu marido e amo a oportunidade de fazer algo por outras crianças também, não só pela minha. Amo a Jesus que em meio ao caos me faz ficar tranqüila.
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